domingo, 2 de dezembro de 2007

por Beatriz Caetana - Cruzeiro

1.0 Um pouco de Jornalismo Gonzo e do Novo Jornalismo
1.1. Características do Novo Jornalismo



Quais são os limites entre o Jornalismo Gonzo e o New Journalism? O jornalista André Felipe Pontes Czarnobai em sua pesquisa, tentou diferenciar esses dois gêneros. O Novo Jornalismo apresenta um caráter muito mais literário se comparado ao Gonzo. Para o Novo Jornalismo é importante ter valor estético, valendo sempre das técnicas literárias. Professor em pós-graduação em Comunicação, Felipe Pena cita exemplos em seu livro Jornalismo Literário, das principais características do novo jornalismo:

· Reconstituir a história cena a cena.
· Registrar diálogos completos.
· Apresentar as cenas pelos pontos de vista de diferentes personagens.
· Registrar hábitos, roupas, gestos e outras características simbólicas do personagem.



A partir da leitura do livro de Edvaldo Pereira Lima, “Páginas Ampliadas - O livro-reportagem como extensão do jornalismo e da literatura”, a descrição do surgimento do New Journalism é apresentada de maneira mais descritiva e aprofundada, principalmente, pelo estilo ter tido auge com os livros-reportagens. Esse gênero de observação participante, como explica Tom Wolfe, esclarece que no surgimento do novo jornalismo, os jornalistas eram mais “caras-de-pau”, não tinham medo em se arriscar, nem em aprofundar-se na matéria, obtendo assim, maior preocupação em fazê-la, e traziam de volta a junção literatura e jornalismo.



O jornalismo sempre usou de artifícios da literatura em sua linguagem, porém, nesse estilo, consegue-se dar outro direcionamento a ela, ou como entende Tom Wolfe, literatura de realidade, que seria a prática do novo jornalismo com a literatura. Truman Capote (A Sangue Frio) George Plimpton (Paper Lion) foram exemplos de escritores e jornalistas que circularam entre o jornalismo e a literatura, sendo conhecidos no início do novo jornalismo,na década de 60, época que um novo Estados Unidos começava a surgir. Vindos de movimentos e acontecimentos como a contracultura, a Guerra no Vietnã, o American Way of Life começava a ser visto e discutidos na sociedade.


Esses movimentos vieram para modificar todos os tipos de arte e linguagens, desde grupos musicais de rock’n roll que surgiam até o jornalismo. Mitos como o artista Andy Warhol, o cinema Undergroud versus o cinema Hollywoodiano, estavam envolvidos na grande mudança da nova América. O new journalism surge em um momento em que os jornalistas americanos já estavam cansados com a técnica nas reportagens, estruturas constantes. Tom Wolfe foi o precursor do nascimento desse estilo, junto de Truman Capote, Gay Talese, Norman Mailer, Jimmy Breslin, John Sack, Joan Didion entre outros. Quem também desponta como precursor no meio literário é o criador do Jornalismo Gonzo, como cita, Edvaldo Pereira Lima:


mas o prêmio mais cobiçado dos escritores free-lancers daquele ano foi para um obscuro jornalista da Califórnia chamado Hunter Thompson, que ‘se enturmou’ com os Anjos do Inferno por dezoito meses –- como repórter, não como integrante, o que teria sido mais seguro. (LIMA, 1995, p.96.).


Essa linguagem é comparada com a escrita de grandes escritores da literatura de ficção, como: Balzac, Dostoiévski e Dickens; pela forma de detalhar precisamente o espaço onde o fato acontece e acontecimentos ocorridos. É nessa fonte que o novo jornalismo adquire parâmetros. Descrevendo diálogos inteiros, com escritas em primeira pessoa:
O new journalism deu um passo na direção do mais abrangente ao introduzir monólogos interiores dos personagens de suas matérias e fluxos de consciência, até então só empregados na literatura de ficção. Tecnicamente, esse recurso manifestava-se através do “ponto de vista autobiográfico em terceira pessoa”. (LIMA, 1995, p.102.).


Mesmo migrando para o uso da primeira pessoa, em certos momentos, o novo jornalismo, não perde a características das descrições, para dar ao leitor o melhor entendimento possível do texto. Isso, como explica Edvaldo Pereira Lima, traz ao texto o realismo, e deixa de lado a idéia de ficção dos escritores do começo do século XIX. Ao importar esse estilo para as reportagens, os novos jornalistas trouxeram as pessoas para perto do mundo em que elas viviam, saindo da objetividade e entrando na subjetividade.


Em um texto da revista Communicare, o escritor Alessandro Carvalho Sales, ressalta que, os novos jornalistas agiam com muita vida nas duas pontas da prática jornalística: a captação devia ser feita no calor do acontecimento, de forma sempre participante e impressionista. No momento de escrever o texto, se expressavam da forma mais literária possível, “cenas e fatos extremamente bem caracterizados. O tom de personalidades, de subjetividade é bem mais manifesto”. (SALES, 2006, p.92.).


1.1.2. Características do Gonzo


Os textos gonzos apresentam uma constante na primeira pessoa, pois o ideal de individualidade é que deve ser seguido no estilo. Os livros de Hunter Thompson mostram a convergência desse estado de compenetração consigo mesmo, a escolha de poder fazer o que quiser, sendo ele a idéia principal do contexto. O que Hunter fazia era quase um processo de “osmose”, literalmente falando. O sarcasmo sempre presente faz com que as reportagens gonzo tracem um perfil próprio; o uso de palavras de baixo calão, a mudança de assunto no decorrer da matéria, a quebra das técnicas jornalísticas, como o lead e a criação de outros personagens leva ao texto mais dramaticidade, envolve o leitor; e às vezes, ao fugir do contexto jornalístico da realidade, o leva ao campo da ficção.


No dia 27 de agosto de 2007, o Caderno FolhaTeen, do Jornal Folha de S.Paulo, publicou um resumo sobre a vida de Thompson, o próximo filme que será produzido por Johnny Deep e mais um texto sobre as principais características do jornalismo gonzo. A matéria continha dez itens, o “Manual do Jornalismo Gonzo”, com as seguintes regras:


1. É preciso ter o talento de um grande escritor, o olhar de um fotógrafo e a cara-de-pau de um ator. Afinal, será necessário viver a ação e reportá-la, enquanto e como estiver se desenrolando;
2. Torne-se parte do objetivo de sua reportagem e interfira no destino da história;
3. Escreva, sempre, em primeira pessoa;
4. Desenvolva um estilo extremamente pessoal e único tanto ao apurar quanto ao contar a história;
5. Não deixe que o leitor perceba onde termina a realidade e onde começa a ficção;
6. Abuse de recursos humorísticos sofisticados, como o sarcasmo e a ironia;
7. Perca-se em intermináveis digressões sobre os mais variados assuntos;
8. Descreva lugares, pessoas e ações nos mínimos detalhes;
9. Explore sem medos todo o seu vocabulário e seus recursos lingüísticos;
10. Não se leve muito a sério. (FOLHATEEN, 2007.).


O jornalismo gonzo apresenta o ideal de imersão em qualquer tipo de assunto, principalmente, se tratando do uso de drogas. Esse estigma de drogas unido ao gonzo, foi marcado por Thompson, que sempre registrou passagens usando drogas ou experimentando algo novo. Em uma entrevista feita com Cardoso, no dia 21 de junho de 2007, ele esclarece essa ligação do jornalismo gonzo com as drogas.

Gonzo jornalismo não tem NADA a ver com drogas. Dizer que gonzo jornalismo está associado às drogas é o mesmo que dizer que o FUTEBOL está associado às drogas só porque o Maradona cheira cocaína. Não faz o menor sentido. [sic] (Entrevista com Cardoso).


O jornalista e um dos criadorores da revista Zero, Alexandre Petillo, quando a revista ainda estava em circulação, em 2003, publicou uma matéria em que o repórter Bruno Torturra Nogueira passava vinte e quatro horas viajando no centro de São Paulo, com quatro comprimidos de ácidos. Essa matéria foi uma das que veiculou num especial sobre drogas, características de Hunter Thompson foram empregadas nessa edição.


Tem essa, muito por causa do Hunter Thompson, existe essa coisa de que tem de ser ‘doideira’ sempre, mas não necessariamente, não precisa ser, é que é complicado. Na revista, houve um especial de drogas, era pauta. Tem essa característica do Hunter Thompson, de apanhar, levar umas porradas. Não necessariamente precisa ser sempre assim. [sic] (Entrevista com Alexandre Petillo.).


Essa tendência é descrita em vários dos livros de Hunter Thompson. Ele descreve sensações que obteve ao ingerir certos tipos de substâncias. No livro ScrewJack, é fácil identificar uma dessas passagens:


Deus do céu são 6h 45 e a cápsula começou a fazer efeito de verdade. Antes de um verde monótono, o metal da máquina de escrever tornou-se uma espécie de azul muito lustroso, e as teclas faíscam e centelham, cheias de pontos de luz... eu meio que levitei na cadeira, pairando sobre a máquina de escrever em vez de ficar sentado. Tudo irradiava um brilho fantástico, luzidio e envernizado com alguma iluminação especial... e em termos físicos o negócio parece a primeira meio hora da viagem de ácido, uma espécie de zumbido onipresente, a sensação de ser agarrado por alguma coisa, vibrando por dentro mas sem nenhum sinal ou movimento exterior. É incrível que eu ainda seja capaz de datilografar. É como se eu e a máquina de escrever tivéssemos perdido todo o peso. Ela flutua à minha frente como um brinquedo luminoso. Que bizarro, ainda consigo escrever de forma correta... mas precisei pensar um pouco agora... “bizarro”. Meu Deus, será que isso ainda vai ficar pior? (THOMPSON, 2005, p.29.).



Esse trecho descreve a primeira vez que Hunter Thompson usou a droga “mescalina”, suas alucinações são detalhadamente descritas, cada sensação, cada ilusão. Em vários momentos do livro, Thompson faz ligações com outros temas, na maioria, outras personalidades. A informação que ele “injeta” no texto, adquire um caráter válido e real, pela proximidade com que ele descreve as personagens mostra o quanto ele as conhece, mesmo sendo em tom de ironia, outra característica do jornalismo gonzo. Mesmo escrito em primeira pessoa e não se limitando em ser técnico, o jornalismo gonzo não deixa de ser informativo, Intimamente ligado com a ação, como cita Felipe Pena. O Gonzo surge em 1971, de uma idéia de Thompson...


ele fazia a cobertura da Mint 400, uma corrida de motos no deserto de Nevada, para a revista Sports Illustrated. Como vivia entrando em roubadas, adotou um pseudônimo, Raoul Duke, e chamou um advogado para acompanha-lo na viagem, apelidado por ele de Doutor Gonzo. Só que o sujeito era ainda mais maluco que o repórter e também ficou famoso. (PENA, 2005, p.57.).



O artigo saiu pela revista Rolling Stone, e depois virou livro com o título Fear and loathing in Las Vegas: a savage journey to the heart of the american dream, se tornando filme, com o nome Medo e Delírio. Sendo esse estilo “filho bastardo”, “a versão mais radical”, (CZARNOBAI, 2003) do New Journalism, ele é baseado na essência literária do novo jornalismo, porém mais agressiva.


1.1.3. Eles são diferentes


Como foi citado, os textos gonzo mantém a atenção na primeira pessoa com interferências constantes do narrador. O sarcasmo presente do começo ao final das reportagens leva em certos momentos o entendimento de uma ficção pela forma de como é descrita a história, contrabalanceando com a estrutura literária empregada dos textos ficcionais. O new journalism também apresenta essa característica nos monólogos extensos introduzidos nas matérias. Sendo essa característica, talvez, a que mais dê distância do Jornalismo Gonzo, o uso massivo da terceira pessoa no novo jornalismo.


É importante salientar que a linguagem do novo jornalismo, como ressalta Edvaldo Pereira Lima, encontra melhor aplicabilidade no livro-reportagem, pelo narrador absorver toda atenção do leitor, através da forma humanizada e literária de tratar os fatos. O gonzo se encaixa independente do formato, pode ser em revistas especializadas, no cinema, ou na internet. A linguagem consegue ser contínua nos variados formatos.


Como foi citado, mesmo depois do seu apogeu com os livros-reportagens, o novo jornalismo não deixou de estar presente nas reportagens, não significando que a idéia de participar da matéria tenha passado, ela continua presente, porém com uma freqüência menor nas reportagens de periódicos. Nos Estados Unidos, o uso do novo jornalismo não se limitou aos livros reportagens. Como lá o uso do lead e a imprensa sempre foram usados desde muito tempo de forma técnica, a linguagem foi apenas se adequando a outros formatos.

(...) de forma que a pequena revolução causada pelo novo jornalismo, começando pelos features de alguns jornais, mas que chegou às matérias “quentes” e depois às revistas de informação, representou a adaptação, ao arsenal jornalístico, de algumas possibilidades literárias outrora esquecidas por conta da suprema esquematização industrialização dos textos, o lide como um dos aspectos que fundem e atestam este dito. (SALES, 2006, p.93.).



Por esse exemplo, é possível entender como no Brasil a publicação de textos alternativos são escassos, pela falta de modernidade no jornal de impressa, sendo adaptados de formatos, na maioria das vezes, americano.

O instrumental jornalístico é pobremente descrito analisado nos manuais e livros que tratam da captação das informações. São indicações de práticas às vezes completamente ultrapassadas ou inadequadas ao contexto brasileiro, por serem quase todas copiadas de receituários norte-americanos. São modelos, pautas, listagens cristalizadas de práticas rotineiras e gastas. O mesmo acontece com a redação: apenas receitas de como escrever bem, normas gramaticais e de estilo. Encontra-se pouquíssima reflexão sobre o texto como reprodução da realidade: quando há, enveredam pela análise ideológica repetindo, sem aprofundar, o mote de reforço do status quo. Não se acham análises de funcionalidade, por exemplo, de personalização ou não do narrador, do uso dos tempos verbais, do uso da descrição, do diálogo etc. BUITONI (apud. LIMA, 1995, p.105.).



O Jornalismo Gonzo, diferente do novo jornalismo, não apresenta base acadêmica que defendam seus atributos, por isso, a falta de informações sobre essa linguagem “desconhecida” faz com que o formato seja pouco utilizado. Mesmo Cardoso dizendo que o desconhecimento vale pela falta de talento e não pela falta de informação, adquirida pelos jornalistas. No Brasil, atualmente, Arthur Veríssimo é o único que consegue empregar o estilo gonzo em periódicos, como as revistas Trip e Galileu. Edvaldo Pereira Lima salienta que no caso do novo jornalismo, por seu contexto literário, ainda é mais fácil encontrar essa linguagem nos livros – reportagens e revistas como, a Piauí, que também joga com a linguagem literária.


É importante deixar claro que o gonzo usa da literatura para focar o repórter, pois ele sim, é a informação principal, a partir dele o leitor vai imaginar e tentar sentir o que ele está tentando passar. Enquanto o novo jornalismo, também usa da literatura para compor o texto de forma onde a técnica não faça parte e sim o talento do escritor.

1.2. A Ficção e seus conceitos no Jornalismo Gonzo


Nesse trabalho uma das hipóteses levantadas é de que, o jornalismo gonzo não tem uma prática mais constante pelo seu envolvimento com a ficção. Se o ponto de partida para qualificar uma linguagem ficcional ou não-ficção for comparada com o estilo da literatura de ficção, de grandes escritores como Balzac, Dickens, Gógol, Dostoievski; e se é a partir desse tipo de linguagem ficcional que Edvaldo Pereira Lima cita que, o new journalism elevou em sua forma de captação da informação baseada nos grandes escritores, então o Jornalismo Gonzo apresenta em sua estrutura alguns caminhos parecidos ao da literatura ficcional, por nesse caso, ser uma vertente dos conceitos baseados no novo jornalismo.


Ao contrário do jornalismo cotidiano, o livro-reportagem moderno ensaia introduzir, em seu enfoque, uma lente que passa a observar a realidade na dimensão ampliada perceptível pela ciência moderna. Seduzida do cartesianismo, mas sem da incorporação de óticas modernas abrangentes. Nem se trata do mergulho no imaginário como fantasia ou ficção, mas como elementos que ajudam a explicar o real num contexto total, sistêmico. (LIMA, 1995, p.101.).


Fica claro que, para Lima, o jornalismo não deixa de abordar o real e não se confunde com a ficção. Alessandro Carvalho Sales também apresenta essa idéia: “se é jornalismo, há que se fazer um relato do real. Este é o ponto de partida” (SALES, 2006, p.94), quando há uma “inventividade”, como afirma Sales, essa linguagem vai para o campo do jornalismo literário.


Essa “inventividade” pode ser vista no novo jornalismo, sendo que antes era apenas vista na literatura de ficção. Baseada nos estudos de Tom Wolfe, “os jornalistas vinham usando frequentemente o ponto de vista em primeira pessoa __ ‘Eu estava lá’ __ assim como os biógrafos, os memorialistas e os ficcionalistas faziam” WOLFE (apud LIMA, 1995, p.102.). Esse trecho se encaixa aos moldes do Jornalismo Gonzo, de (re)contar a partir daquilo que o repórter presenciou, em primeira pessoa. “Mas isto é limitador para o jornalista, porém, já que ele consegue com isso trazer o leitor para dentro da mente de um único personagem _ ele próprio” (id. 1995, p.102.).


Está aí mais um trecho da idéia do que seja Jornalismo Gonzo, descrito por Tom Wolfe, mesmo ele não se tratando direta e especificamente do gonzo, ele acha “irritante” quando características desse tipo aparecem nas reportagens do novo jornalismo, pois, a matéria se apresenta insignificante para o leitor. Porém, ao mesmo tempo em que ele discorda, admite a ligação com a ficção. “Entretanto, como poderia o jornalista, escrevendo não-ficção, penetrar precisamente nos pensamentos de outras pessoas?” (idib. , p.102.).


A ficção consegue penetrar melhor com sua narrativa discursiva, traz um contato mais íntimo e direto com a realidade. Maria Cristina Costa associa a realidade com a ficção, mostra que a ficção não é contra a realidade, mas trabalha no campo da subjetividade, tornando-se diferente dos sonhos e dos devaneios, mas participa deles, estabelece uma comunicação perfeita. No seu livro Ficção, Comunicação e Mídia, Maria Cristina, entra no campo da psicanálise em sua superfície, para esclarecer a subjetividade da ficção nos textos. Mesmo fugindo da realidade, a ficção apresenta um caráter positivo quando entra em contato com o leitor, “nessa comunicação direta e simultânea a compreensão da intencionalidade do discurso é a facilidade pelo uso de múltiplas linguagens e pela interação comunicativa que se estabelece entre autor e ouvinte” (COSTA, 2001, p.13). A consciência humana e a ficção estão ligadas entre si.


O discurso ficção é ligado a consciência humana, criando assim novas sensações que correspondem ao subjetividade, fugindo da realidade objetividade. (...) A ficção estimula a imaginação por ser uma forma da comunicação humana, vinda dos mitos, originados desde a época dos deuses ou do trabalho, mudando, dessa forma a realidade identificada diretamente. Fugindo da realidade conhecida pelos homens, a ficção opera na área subjetiva, buscando ao que foi vivido. (COSTA, 2005, p.13.).


Podemos dizer que no contexto jornalístico, principalmente no literário, a objetividade é usada para a captação da informação (independente do jeito de captá-la), no momento em que se junta à lógica, é quando encontra a subjetividade. Portanto, mesmo se distanciando do foco, o Jornalismo Gonzo usa da ficção para penetrar na mente do leitor, ou como dizia Hunter Thompson para esclarecer o que vinha a ser o estilo gonzo:


Um estilo de reportagem baseada na idéia do escritor William Faulkner segundo a qual a melhor ficção é muito infinitamente mais verdadeira que qualquer tipo de jornalismo – e os melhores jornalistas sempre souberam disso. (CZARNOBAI, 2003.).


Para Thompson não há o melhor entre o jornalismo (real) e a ficção, para ele as duas funções tem de ser feitas de forma certa, seguindo o mesmo propósito, o de informar. A ficção é a outra mão de um texto gonzo, entrelaçado com o fato, é nesse momento que o leitor é atraído pela matéria.


Perguntado sobre quanto tempo dura a produção de uma matéria gonzo, Alexandre Petillo diz que, já aconteceu de ter que fazer matéria de um dia pro outro. E já aconteceu de ter três meses pra fazer. “Você tem que aprofundar, você acaba sabendo um pouco mais do que um jornalista que fez meio por cima, ali o factual”. Sendo de formas diferentes, ou captação aprofundada, o importante, como ressalta Thompson e Petillo, é informar. Além de presenciar o fato, paulatinamente, o jornalista gonzo, sabe muito bem daquilo que vai passar para o papel, pois presenciou todas as sensações da captação dos fatos, o que possibilita informar o leitor de uma maneira diferenciada um jornalista que somente escreve matérias “quentes”.


Em nenhum momento do livro, Páginas Ampliadas, a linguagem do Jornalismo Gonzo é citada ou explicada, porém, em vários trechos implantados de artigos e livros de Tom Wolfe, ele próprio descreve o que viria a ser o Jornalismo Gonzo, mesmo não sabendo e nem se direcionando a ele.


1.3. O Novo Jornalismo americano e seus reflexos no Brasil



O novo jornalismo foi implantado primeiro nas matérias features, as matérias frias. Os jornalistas que se dedicavam a elas tinham mais tempo a se dedicarem a um jornalismo literário. Depois infiltrou-se nos jornais americanos; Herald Tribune, Daily News, The New York Times, que foram os primeiros a adotar essa nova linguagem, logo depois, revistas dominicais e as revistas independentes.


Com todas as mudanças conseqüentes dos anos 60, não seria para menos que a imprensa também não evoluísse. Eis o momento do new journalism. Surge a partir de um manifesto feito por Tom Wolfe e outros jornalistas escritores, que tentaram mudar o jornalismo técnico, sem emoção e envolvimento daquela época. Wolfe, hoje um dos maiores estudiosos dessa corrente, acompanhado de outros escritores, muitos desses inspirados na linguagem literária da década de 30, de autores como William Falkner e Ernest Hemingway. Esses levavam o lado social para a literatura. Trazem ao novo jornalismo conceitos empregados da literatura, vendo no livro-reportagem o auge do movimento.


As técnicas do jornalismo americano chegam ao Brasil no final dos anos 50, começo dos anos 60. Essa nova reforma deu início com jornalistas de peso como Jânio de Freitas, Ferreira Gullar, Reinaldo Jardim e Alberto Dines. O primeiro elemento a ser adotado pelos brasileiros foi o uso do lead, que há muito tempo era usado no jornalismo americano. Escolas de jornalismo começaram a surgir e ser implantadas como novas áreas das universidades. A primeira a tornar efetiva o curso de comunicação social foi a Escola Cásper Líbero. No final dos anos 60 surgem duas publicações, sendo exemplos da influência americana. Seria a revista Realidade e o Jornal da Tarde.


A revista Realidade durou de 1966 até 1970, foi o melhor exemplo de jornalismo e entretenimento, envolvendo criatividade e boa literatura. Com recordes de vendas, alcançou marcas antes nunca vistas em periódicos no Brasil. Primeira publicação mensal de periódicos da Editora Abril, no campo de informação geral. A revista foi idéia experimental da editora que acabou dando certo com tiragens crescentes.


O número 1 sai em abril de 1966 com 251.250 exemplares, para surpresa da própria Abril esgota-se três dias e a capa --- Pelé sorrindo com um chapéu da guarda real britânica, alusão à Copa do Mundo que se realizaria naquele ano, (...). O número 2 sai com 281.517 exemplares, também tem tiragem esgotada. O 3 vende a tiragem total de 354.030 exemplares; façanha até então considerada impossível. O quarto já está em 404.060, o quinto cresce para 470 mil, e por aí segue até que o número 11, em fevereiro de 1967, bate novo recorde: 505.300 exemplares. (LIMA, 1995, p.168.).



O motivo para todo o sucesso da Realidade, foi a “ambiciosa” cobertura que ela fez. Com publicações mensais, somado com a proposta editorial, mostrando o Brasil em seus vários ângulos do comportamento humano. Trouxe informação desde a classe alta, e aos que viviam na classe baixa. Talvez a magia da Realidade foi não ser uma revista presa ao dia-a-dia, trouxe o contemporâneo à todo seu contexto. O método dos repórteres brasileiros de captar a informação era parecido com os dos novos jornalistas, pois tinha a seu favor o tempo de um mês para a produção das reportagens, “não chegou a atingir o grau de experimentalismo ousado que alcançou o new journalism, mas sem dúvida veiculou um texto de rupturas para com o próprio texto do jornal e da revista” (LIMA, 1995, p. 172.).


No final dos anos 60, a revista já começava a dar sinais de cansaço, mesmo com grandes reportagens trazendo assuntos pertinentes à época, a revista começou a decair nos últimos anos de sua existência. Nos meados dos anos 60, o Jornal da Tarde surge com esse mesmo ímpeto, firma suas característica na produção editorial e na linguagem literária, porém com a intenção de cobrir os acontecimentos da cidade de São Paulo. Surge e evolui bem, depois acaba descendo o nível com grandes-reportagens apelativas, principalmente, nas eleições presidenciais de 1989, “mas ao longo das oscilações nunca deixou de apresentar um nível de texto verbal, nas grandes-reportagens, quase sempre bom”. (LIMA , 1995, p. 177.).























Beatriz Caetana
graduanda em Jornalismo
msn: biacramos@hotmail.com


5 comentários:

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