domingo, 2 de dezembro de 2007

por Beatriz Caetana - Cruzeiro

3.1. O que "eles" dizem do Jornalismo Gonzo


Um dos pontos metodológicos dessa pesquisa foram as entrevistas feitas com jornalistas e acadêmicos que vivem no meio do jornalismo literário, que trabalharam com a linguagem ou que de certa forma, fizeram estudos sobre o estilo. Através dessas entrevistas, ficou mais fácil visualizar o que vem a ser jornalismo gonzo e o por quê de, no meio acadêmico a linguagem ser pouco discutida. Os entrevistados foram os jornalistas,André Julião, André Felipe Pontes Czarnobai, Felipe Pena, Alexandre Petillo e Gustavo Abdel Massih.


Como a entrevista com certeza teria que estar inserida nesta monografia, num primeiro momento, preferimos trazê-la com André Felipe Pontes Czarnobai , um dos maiores, ou se não, o maior divulgador do jornalismo gonzo no Brasil. Este autor (e adepto assumido) inspira a maioria dos trabalhos que tratam do tema. Além de Cardoso que é um profundo conhecedor dessa linguagem, procuramos entender a visão que o meio acadêmico tem sobre o assunto. Para isso, num segundo momento, foram feitas entrevistas com Felipe Pena, autor do livro Jornalismo Literário, lançado em 2005, e Gustavo Abdel Massih, pós-graduado pela Associação Brasileira de Jornalismo Literário, com a dissertação, “Arthur Veríssimo: um filho único do Jornalismo Gonzo brasileiro”.


Eles explicam que para o meio acadêmico o jornalismo gonzo não é levado a sério. Principalmente, para Felipe Pena que acredita que a causa para a não divulgação dessa linguagem seja o preconceito. Já, para Gustavo Abdel, o gonzo não precisa de uma divulgação, “as pessoas que devem ir atrás dele”. (Entrevista com Gustavo Abdel)


Além desses três jornalistas, também foram entrevistados, André Julião, que se graduou em jornalismo e como trabalho de conclusão escreveu um livro sobre o jornalismo gonzo, de título, “Jornalismo o quê?”. A idéia do título faz referência à reação mais comum das pessoas (aqui incluímos também jornalistas) quando dizemos Jornalismo Gonzo; a resposta espontânea: “jornalismo o quê?”. E, ainda, outro entrevistado foi Alexandre Petillo, um dos criadores da revista Zero. Petillo nos fala que o gonzo pode ser usado em todos os tipos de formato, como TV, cinema, internet, apenas precisa ser utilizado de forma correta.


É importante ressaltar que o intuito das entrevistas foi mostrar o que jornalistas e acadêmicos que conhecem a linguagem, pensam do tema. E particularmente, o motivo para não ser conhecida, principalmente no meio acadêmico.

3.2. O fator talento.


É importante ressaltar que para compor esse capítulo, foram desenvolvidas entrevistas com jornalistas e acadêmicos que conhecem a linguagem do jornalismo gonzo. E que em algum momento, a mesma pergunta foi feita para todos os entrevistados, a questão chave foi, “Qual o empecilho ou causa, que faz com que o jornalismo gonzo, não seja divulgado?”. Para essa pergunta, a resposta unânime foi, o que mais dificulta, é a falta de talento.


Alguns descrevem ainda que a causa da não divulgação do gonzo, é o alto grau de desconhecimento entre alunos e profissionais. E, indo mais além, conforme André Julião adverte que muitos que sabem o que é, não sabem fazê-lo. Cardoso é da mesma opinião. Para ele, o principal problema é a falta de talento. Por trás do jornalismo gonzo, existe todas as características pra se montar a reportagem, mas é o talento de quem pratica, que é levado a sério. Cardoso ressalta ainda mais, dizendo que não dá para exigir que todo jornalista seja um bom gonzo jornalista. Ele também explica que não conseguiu deixar claro em sua monografia que a grande importância do gonzo não são suas características ousadas e marcantes, mas sim o talento. “A grande verdade é que só se faz gonzo jornalismo com um escritor extremamente talentoso e, sobretudo, carismático. Sem isso, nada de importante pode ser produzido”.
Outro que também acredita que a falta de talento seja o principal empecilho para que o gonzo não seja conhecido é Gustavo Abdel Massih. O jornalista pós-graduado em jornalismo literário é da seguinte opinião:


O jornalismo gonzo é pouco divulgado por que, desculpe a expressão, falta coragem em desempenhar tal vertente. Mas acima da coragem, falta talento para isso. E além de talento, falta conhecimento sobre gonzo. Enfim, a academia, como sempre digo é "o feijão com arroz preparado por máquinas", ou seja, o trivial para que você saia técnico em jornalismo.(Entrevista com gustavo Abdel)


Essa constante de respostas sobre a falta de talento é visível na maioria das entrevistas. E ela sempre está relacionada com o pouco conhecimento que impera no jornalismo gonzo. O estilo não é uma novidade inventada há pouco tempo, existe a pelo menos quarenta anos, e mesmo assim, ainda é uma linguagem desconhecida. Não sendo esse um dos motivos para seu desconhecimento.

3.3. A dificuldade de encontrar referências.


São poucas as referências bibliográficas encontradas tanto sobre o jornalismo literário e quanto jornalismo gonzo, isso em livros e também na internet. Baseando-se em projetos acadêmicos, os mais conhecidos, ou de maior expressão, são as monografias de Cecília Giannetti, pela UFRJ, e Cardoso, pela UFRGS. Além deles, outra fonte sobre jornalismo literário no Brasil é o site do Texto Vivo. Esse site é mantido pelos professores Celso Falaschi, Edvaldo Pereira Lima e Sérgio Vilas Boas.


Além dessas referências, é difícil encontrar bibliografias que aprofundem de maneira acadêmica o tema. Essa dificuldade em embasar o trabalho foi uma das motivações que levou André Julião a escrever seu livro. A idéia de Felipe Pena é inovar sempre, nunca ficar no comum, assim fica mais fácil de se aprofundar na pesquisa.

A experiência de Cardoso para montar sua pesquisa também sofreu alguns empecilhos.
"O objetivo da minha monografia era demonstrar que o gonzojornalismo era um GÊNERO jornalístico que merecia diferenciação do NEW JOURNALISM. Mas para fazer isso, eu não podia recorrer a uma bibliografia acadêmica sobre o gonzo, porque isso simplesmente não existia. Então tive que montar toda uma argumentação a partir da comparação entre o New Journalismo e a trajetória profissional (e pessoal, já que no gonzo essas duas idéias se mesclam) de Hunter S. Thompson, o pai do estilo. Não foi nada fácil e, quase quatro anos depois, pelo que escuto de outros estudantes que pretendem concluir seus cursos com trabalhos sobre o gonzo, parece que a situação continua igual". (Entrevista com Cardoso).

Atualmente, livros como Jornalismo Literário, lançado em 2005, de Felipe Pena, ajudam a basear as referências, mas com noções superficiais do tema, principalmente do jornalismo gonzo.
De um tempo para cá, o crescimento de trabalhos acadêmicos vêm aumentando. Mesmo assim a idéia de aumentar não quer dizer que todos os campos do gonzo jornalismo tenham sidos explorados. E os estudantes que pesquisam essa linguagem não se aventuram na idéia, ressalta Cardoso. Mesmo assim a idéia “Eu não vejo ninguém tentar, e isso me deixa com ainda menos esperanças para o futuro do jornalismo brasileiro”. (Entrevista Cardoso).


3.4. Jornalismo Gonzo também tem técnica.


A partir das entrevistas prontas que podem ser lidas na íntegra no apêndice desta pesquisa, podemos notar que de certa forma, a linguagem do jornalismo gonzo exige do jornalista uma técnica. Quando suas características não são praticadas, a linguagem deixa de ser gonzo. “Jornalismo gonzo consiste no envolvimento profundo e pessoal do autor no processo da elaboração da matéria”. (PENA, 2005, p.57). Essa é uma das principais características do gonzo journalism. Como ressalta André Julião, não adianta escrever apenas em primeira pessoa, isso não é jornalismo gonzo. É necessário usar todos os “mandamentos”:


O Jornalismo Gonzo consiste no envolvimento profundo e pessoal do autor no processo da elaboração da matéria. Não se procura um personagem para a história; o autor é o próprio personagem. Tudo que for narrado é a partir da visão do jornalista. Irreverência, sarcasmo, exageros e opinião também são características do Jornalismo Gonzo. Na verdade, a principal característica dessa vertente é escancarar a questão impossível isenção jornalística tanto cobrada, elogiada e sonhada pelos manuais de redação. (PENA, 2005, p. 57)


É interessante ver que, um estilo que é chamado de radical, ou bastardo do new journalism, necessita de regras para ser praticado e quando suas regras não são estritamente seguidas, a linguagem não é gonzo. Não é intrigante que uma linguagem que presa pelo radical e pela liberdade, precise de regras para se tornar algo diferente?


Beatriz Caetana
graduanda em Jornalismo
msn: biacramos@hotmail.com

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